sexta-feira, 3 de maio de 2013

Análise da prova da PM-DF


Questão 1 – Interpretação
a)    Errada. No início do texto, há a menção da comparação entre o que a tradição jurídica europeia continental chama de Estado de direito e a tradição jurídica anglo-saxônica de rule of Law. Não  se afirma que o devido processo legal tenha surgido nos países anglo-saxônicos. Mas o principal erro se concentra na finalidade do rule of Law, pois a questão se restringe ao fato de mencionar a garantia dos direitos individuais inalienáveis, não mencionado as demais: submissão do exercício do poder ao direito e mecanismos de controle dos atos governamentais (linhas 18 a 23). Erro de redução.
b)   Errada. Não se pode inferir que o modelo anglo-saxônico de controle inspirou as revoluções. Entre as linhas 39 e 41, percebe-se que as inspirações surgiram das revoluções socias do século XX, não fazendo nenhuma relação direta ou indireta com o referido modelo. Erro de inversão.
c)    Errada. O Estado de bem-estar surgiu para atribuir novas responsabilidades à ordem estatal (linhas 40 e 41). Ora, se ele surgiu para atribuir novas responsabilidades, não pode ter sido criado para garantir os avanços de controle do poder do Estado alcançados até então, como afirma a questão.  Erro de inversão.
d)   Errada. No primeiro parágrafo, existe a aproximação dos conceitos de Estado de direito concebidos pela tradição jurídica europeia e pela tradição jurídica anglo-saxônica, afirmando que são, basicamente, iguais, embora denominadas de formas distintas.  Afirma o texto que esta tem uma dimensão a mais – a substancial – do que aquela, mas que o princípio da legalidade é expresso claramente entre as linhas 5 a 8. Logo, esse princípio não é exclusivo do Estado de direito. Erro de inversão.
e)   Certa. A partir da linha 7, apresenta-se um contraste entre as ideias expresso pela conjunção “contudo”. Essa contradição deixa implícito que o Estado de direito tem indício de contradição ou de redundância (pois afirma que o termo rule of Law, ao contrário do que ocorre com o Estado de direto, não as tem – linha 10). Em seguida, dá-se a explicação de o porquê o rule of Law não apresenta essa contradição (linhas 11 a 15). Ainda no início do segundo parágrafo, lê-se que o rule of Law apresenta mais do que uma dimensão, a substancial, além da formal. Associando as afirmações, pode-se concluir, sim, que o afirmado na questão procede.

Questão 2 – Interpretação
a)    Certa. Percebe-se que há aproximação entre os dois princípios, mas, no início do segundo parágrafo, encontra-se a base da resposta, ao afirmar que a tradição anglo-saxônica tem, além da dimensão formal, a substancial. Essa ideia ainda é ratificada nas linhas 30 e 31, ao se ler “dimensão meramente formal”.
b)   Errada. Ao longo do segundo parágrafo, percebe-se a descrição do funcionamento do rule of Law em relação às duas dimensões – formal e substancial –, ressaltando a última. Afirma que essa tradição não apenas submete o exercício do poder ao direito, mas também concebe mecanismos de controle dos atos governamentais e direitos inalienáveis. No terceiro parágrafo, vê-se a abordagem do Estado de direito nos países de tradição do civil Law, destacando a dimensão formal e afirmando que todos os atos governamentais devam estar juridicamente habilitados. Não se lê relação entre restrição de liberdade e garantia dos direitos individuais. Erro de extrapolação.
c)    Errada. Segundo o final do segundo parágrafo, tem-se uma redução de ideias. A questão afirma que “basta” aplicar a lei. O texto afirma que além da aplicação da lei (interpretando que todos devem ser tratados de maneira igual perante a lei), deve-se ter a submissão de todos a procedimentos justos e iguais. Erro de redução.
d)   Errada. Toda essa afirmação diz respeito aos países de tradição do civil Law, não se aplicando aos demais países. O erro concentra-se no fato de que a questão generaliza, ao afirmar “os atos emanados dos órgãos estatais” (todos?), não restringindo essa concepção, como o texto faz. Perceba que essa afirmação diz respeito à tradição do civil Law, não sendo estendida à tradição de rule of Law. Erro de extrapolação.
e)   Errada. No início do último parágrafo, lê-se que a tradição continental passou a incorporar a dimensão substancial do rule of Law, criando essa nova modalidade de Estado de direito, chamada de Estado Constitucional. Ora, se houve a incorporação da dimensão substancial do rule of Law nesse novo modelo, então há relações entre eles. Erro de inversão.

Questão 3 – Gramática
a)    Certa. Conceitos de coesão referencial aplicados, associados à análise morfológica.
b)   Errada. Afirmação incoerente com os casos de crase.
c)    Certa. O pronome “lhes” exerce função de complemento dos dois verbos no contexto.
d)   Errada. Inflexão significa, segundo o dicionário Aurélio, “Ação ou efeito de dobrar, curvar, inclinar”. No contexto, deve-se entender a palavra com sentido positivo, pois se lê que a submissão às normas pelo poder estatal foi enfraquecida com o advento do Estado de bem-estar.
e)   Errada. Tem recebido configura o tempo pretérito perfeito composto do indicativo que, além de indicar algo que se desenvolve até o momento da fala (Temos superado os obstáculos) é usado para exprimir repetição (Os jogadores têm errado muito). Então, como essa ideia de continuidade é mantida, a questão está errada.

Questão 4 – Interpretação
a)    Certa. Na abertura no parágrafo, lê-se que as emoções podem desempenhar papel (então podem influenciar) até mesmo no contexto jurídico. Como o texto afirma que nesse contexto se busca avaliação objetiva, pode-se afirmar que emoções são apresentadas em oposição ao contexto jurídico.
b)   Errada. O autor entende como prova qualquer evidência factual que auxilie no estabelecimento da verdade. Afirma, ao longo do texto, que a confissão da culpa, bem como testemunho, evidências e documentos podem servir como provas, mas em nenhum momento, refere-se à incontestabilidade delas.
c)    Errada. O texto afirma, no último parágrafo, que há pessoas para as quais um assassinado pode não ser entendido como crime. Só a partir disso, não se pode inferir que essas pessoas estão à margem da lei ou agindo de acordo com suas consciências.
d)   Errada. O texto cita duas formas de cometimento de ato: malum in se ou malum prohibitum. Atesta que o proibido causa transtornos ou problemas, podendo ser ou não imoral ou lesivo.
e)   Errada. A avaliação judicial se dá por meio do aparato judicial: juiz, jurados, advogados. A crença do réu pode alterar a avaliação do réu, não a judicial.

Questão 5 – Gramática
a)    Errada. A palavra “culpada” é entendida como adjetivo que exerce função de predicativo do sujeito “pessoa”. Porém, “regulamentada” é forma verbal de particípio do verbo “regulamentar”, empregado em locução passiva, fato que justifica sua flexão.
b)   Certo. Nesse caso, “se” é conjunção integrante, pois introduz o complemento direto, em forma oracional, do verbo “saber”. Perceba que cabe “isso” no lugar da oração: quer saber isso (OD oracional).
c)    Errada. A palavra “inocente” exerce a função de predicativo, mas não do objeto e sim do sujeito paciente “réu” da locução passiva “foi considerado”.
d)   As conjunções são sinônimas nesse contexto. Podem, então, ser intercambiadas. A questão está errada por afirmar que não podem ser trocadas uma pela outra.
e)   Nesse caso, “haver” é impessoal. Pode, então, ser empregado somente na 3ª pessoa do singular.

Questão 6 – Gramática
a)    Errada. Coesão referencial: o pronome pessoal oblíquo “o”, anafórico, retoma o termo implícito “fato de ter cometido uma transgressão”.
b)   Errada. O primeiro “se” exerce função de PIV (parte integrante do verbo). Já o segundo “se” exerce sim a função de PA (partícula apassivadora). Cabe a substituição de “traduz-se” por “é traduzido”.
c)    Certa. A colocação dos pronomes átonos em locuções verbais formadas por verbo auxiliar seguido de principal no infinitivo é flexível (inclusive locuções verbais formadas com preposição). Ainda estariam certas: “a decisão se terá de apoiar”; “a decisão ter-se-á de apoiar”.
d)   Errada. Coesão referencial: o pronome demonstrativo “essa” só pode ser anafórico. Não pode se referir a termo que será expresso no texto. Refere-se, no texto, à avaliação judicial da culpa.
e)   Errada. O pronome relativo “quem”, na frase, exerce função sintática de complemento nominal

Questão 6 – Gramática
a)    Errada. Não foi mencionada a alteração da forma verbal “é” para o subjuntivo “seja” e as demais correlações verbais. Então, não se pode falar em relação de condição.
b)   Certo. Ao se analisar as ideias do texto, percebe-se que o “se” introduz uma relação de causa em relação à oração que faz parte e a subsequente, deixando claro que o valor do direito deriva daquele que o criou, ou seja, o valor do direito deriva dos valores humanos, pois os humanos criaram o direito.
c)    Errada. É conjunção subordinativa causal.
d)   Errada. Não haveria relação entre as ideias subsequentes. Com as alterações, o texto ficaria assim: “O direito, sendo uma criação humana, o seu valor deriva...”
e)   Errada. É conjunção subordinativa causal.


Recurso da questão 3

Solicita-se a anulação da questão, pois se verificam duas assertivas corretas. Conforme dita a coesão referencial e a morfologia da gramática tradicional, o afirmado na alternativa “A” procede, uma vez que, no contexto, “aquilo” e “o” são pronomes demonstrativos e são os antecedentes dos pronomes relativos que os sucedem imediatamente.
Porém, o afirmado na alternativa “C” também procede. O pronome pessoal “lhes”, que tem como referente o nome “indivíduos” (linha 22), exerce função sintática de complemento verbal do tipo objeto indireto, tanto do verbo reserva (linha 26) quanto do verbo atribui (linha 26), uma vez que o conectivo “ou”, empregado entre os verbos, tem valor aditivo, o que permite tal interpretação. O período poderia ser desenvolvido, substituindo-se os pronomes relativo e o pessoal pelos seus referentes, tendo-se a seguinte leitura: “a lei reserva aquilo aos indivíduos ou atribui aquilo aos indivíduos”. Portanto, como se pode ter tal leitura, solicita-se o acréscimo dessa assertiva como verdadeira e a consequente anulação da questão.